Quando li sobre a morte Neil Peart hoje, um turbilhão de memórias surgiu aqui. Quando o meu filho Benjamin tinha perto de dois anos, recebemos num espaço cultural que o Cuidado Que Mancha administrava, o Circo da Silva, um grupo de música para crianças. No elenco havia um polvo baterista. Era fascinante. Das partes boas de ter a mãe administrando um espaço, o Benja pôde ficar tocando bateria com o polvo depois que o espetáculo findou.
Foi amor à primeira baqueta. O guri nunca mais quis parar de tocar. Isso foi em outubro. Em dezembro, ele ganhou uma bateria de presente. Foi mais forte que nós. Mesmo sabendo que eram os nossos ouvidos que iriam passar o dia se arrependendo, ele ganhou a bateria. A única vizinha próxima era surda. Tava tudo sob controle.
Íamos almoçar em um restaurante que oferecia hashis. Logo eram transformados em baquetas. O porta-guradanapos em prato. E logo tava montada a bateria. Ele pedia panos para colocar no cabelo e usar como bandana, pois já tinha sido apresentado ao Neil Peart. Neil pra ele. Já era íntimo.
Com a avó como plateia, ele tocava três horas por dia. Nunca pedimos. Nunca mandamos. Nunca. Ele ia lá. E tocava. Fez lindas aulas com a incrível Biba Meira (que tem um grupo mara de percussão para mulheres, As Batucas). Ele nunca gostou de abraços que não fossem dos pais ou da avó. A Biba abraçava ele. E ele gostava.
Quando ele tinha dois anos e seis meses, a vó morreu. Ele estava fazendo aula de música. Naquela semana, não tocou. Na aula, se aninhou no meu colo, ficou quietinho. Nada soava bem…
E nunca mais tocou. O público dele tinha ido embora. E ele não suportou tocar para mais ninguém.
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